Este texto é a segunda parte do artigo científico desenvolvido pela nutricionista Vanda dos Santos. Clique aqui para ler a parte I do artigo.
RESULTADOS
Quanto às variáveis antropométricas, a tabela 1 apresenta a caracterização da amostra em relação às variáveis de peso (kg), altura (m) e IMC (kg/m2) onde a média do índice de massa corporal dos atletas foi de 22,13 kg/m2 (20,71 ± 26,29).
A população foi composta por 15 jogadores de futsal, com idade entre 17 a 22 anos,com idade média de 18 anos na cidade de Joinville-SC.
Em relação ao consumo energético dos atletas, a média foi de 2,641 Kcal/dia, inferior à média calculada de acordo com as necessidades e o gasto energético total (GET) de 3,469 Kcal/ día, observando um déficit energético de 828 Kcal/ día, conforme a figura 1.
Tabela 1 – Caracterização da amostra: Variáveis antropométricas.
Variáveis Min Max Méd
Peso (kg) 61 – 79 – 68,73
Estatura (m) 1,66 – 1,83 – 1,76
IMC (kg m²) 20,71 – 26,29 – 22,13
Tabela 2 – Média dos macronutrientes na dieta dos jogadores adolescentes de futsal. Nutrientes – % – Recomendação
Carboidratos 40,1 – 60 – 70%
Proteína 27,24 – 10 – 15%
Lipídios 34,73 Até 30%
Figura- Consumo de calorias ingeridas diariamente e calorias indicadas para cada jogador de futsal.
Observa-se que a média de ingestão de carboidratos foi de 39,97% e encontra-se abaixo da recomendação, em relação às proteínas a média de ingestão foi de 27,24%, mostrando-se superior ao recomendado e os lipídios com 34,73% considerado superior às recomendações.
DISCUSSÃO
O método mais simples para se obter a análise da composição corporal é o índice de massa corporal (IMC), pois o mesmo apresenta fácil utilização e fácil entendimento dos resultados obtidos (Guedes, 2013). Sobre à composição corporal dos atletas pesquisados, verificou-se que o valor médio da estatura foi de 1,76 m, peso corporal 68,03 kg, IMC 22,13 ± kg/m2. Assim como o estudo de Penteado (2009), o qual verificou que a maioria dos atletas estava dentro da normalidade para ambos os indicadores.
Valores próximos ao apresentado neste estudo, foram encontrados na pesquisa realizada por Penteado, Baratto e Silva (2010), com 13 jogadores de um time de futsal profissional com idades entre 18 e 32 anos onde 76,92% (n=10) dos atletas apresentaram IMC de eutrofi, resultando em uma média de IMC de 24,44 ± kg/m2.No estudo de Fagundes e Boscaini (2014), com 17 atletas do sexo masculino de um time de futsal, com média de idade de 25,9 ±, foi comparado diferentes métodos de avaliação do estado nutricional, os autores concluíram que o IMC não é um indicador confiável para classificar o estado nutricional de atletas, pois o mesmo não avalia especificamente os componentes corporais, o qual deve ser acompanhado de um indicador de composição corporal.
Vale ressaltar que o IMC não mede separadamente valores de massa magra e massa gorda, contudo não se sabe ao certo referente a que é este valor determinado. Em relação a associação entre idade e peso corporal, na pesquisa realizada por Webber e colaboradores (2009), com 13 jogadores de futsal profissional com idade entre 18 e 32 anos mostrou não haver associação estatisticamente significativa entre idade versus peso corporal. Os resultados apresentados nesta pesquisa não condizem com as recomendações propostas. Uma alimentação saudável e que forneça um aporte energético adequado é fundamental para a performance dos atletas, pois além de aumentar o desempenho melhora também o tempo de recuperação após o esforço físico. Em contrapartida, inadequações na ingestão de energia e macronutrientes podem influenciar negativamente no desempenho esportivo. O atleta deve manter uma alimentação adequada para que supra suas necessidades metabólicas, e assim, promova um bom estado de saúde e sucesso esportivo (Silva, Silva e Santos, 2012).
Segundo o estudo de Diedrich e Boscaini (2014), onde foi avaliado o perfil nutricional e consumo alimentar de 17 jogadores de um time de futsal masculino, também foram encontrados inadequações na ingestão de calorias dos atletas onde, 17,6% consumiram abaixo do recomendado, 23,5% dentro do recomendado e 58,8% acima do recomendado de acordo com o preconizado pela SBME (2003). Na pesquisa realizada por Schwarz e colaboradores (2012), realizada com 13 atletas de uma equipe de futsal masculino, com idade entre 17 e 31 anos foram encontrados também valores inadequados para o consumo de calorias, todos os atletas avaliados apresentaram o consumo calórico abaixo do recomendado.
Com o consumo insuficiente de energia pelos atletas isso pode implicar no fornecimento de nutrientes importantes, que estão ligados ao metabolismo energético e ao sistema imunológico. Conforme Sartori, Prates e Tramonte (2002), a ingestão inadequada pode causar várias insuficiências nutricionais no organismo do atleta, pois além dos macronutrientes estarem insuficientes, os micronutrientes como vitaminas ou sais minerais também podem estar inadequados. Os quais apresentam funções essenciais no organismo como a formação do sangue, fortalecimento dos ossos e o bom funcionamento dos órgãos.
A falta de informações corretas acerca da alimentação pode influenciar negativamente nas escolhas alimentares destes indivíduos e como consequência, prejudicar o desempenho esportivo dos mesmos (Schwarz e colaboradores, 2012).
Em relação aos macronutrientes o consumo médio de carboidratos (40,01%) abaixo da recomendação (60-70%) da Sociedade Brasileira de Medicina do Esporte (2009). Na nutrição esportiva a diretriz da SBME (2003) indica recomendação diária de macronutrientes para atletas o equivalente a 60 -70% de carboidratos, até 30% de lipídeos e 1,2 a 1,6 gramas de proteína/kg de peso. Os resultados sugerem um baixo índice de consumo de alimentos ricos em carboidratos e um maior de lipídios.
O consumo alimentar inadequado pelos atletas vem sendo analisado e confirmado por diferentes pesquisadores, onde chegasse a conclusão de que é necessário um acompanhamento e orientação individualizada para adequar os hábitos alimentares dos atletas, bem como de uma educação nutricional para melhorar o nível de conhecimento deles e dos seus treinadores (Vilardi e colaboradores, 2001).
O estudo de Santin e Rochelle (2012), foram avaliados 23 atletas de futsal do gênero masculino, com idade entre 13 e 32 anos. Observou-se na referida pesquisa ingestão média de carboidratos de 50,0% do VET, também abaixo do recomendado.
O metabolismo de carboidratos é determinante no desempenho do atleta sendo o macronutriente de principal de fonte de energia na execução da atividade física e a baixa da ingestão deste macronutriente pode comprometer o desempenho físico do atleta segundo Sousa (2006).Em atividades que necessitam de maior utilização de glicogênio como fonte energética é importante dar uma atenção especial a quantidade de carboidratos, principalmente nos dois a três dias antes da competição. Dessa maneira, o corpo consegue fazer maiores reservas de glicogênio e estar mais bem preparado para o dispêndio de energia durante uma prova competitiva conforme Dunford (2012). Apesar de a reserva de glicogênio ser uma vantagem em termos de fornecimento de energia rápida durante a atividade física, ela se esgota rapidamente.De acordo com a SBME (2009) é recomendado um consumo de carboidratos entre 5 a 8g/kg de peso/dia para uma melhor recuperação muscular; em atividades de longa duração e/ou treino intenso recomenda-se ingestão de até 10g/kg de peso/dia e para provas longas os atletas devem consumir entre 7 e 8g/kg de peso/dia.De acordo com Perrone (2008) esse déficit energético pode conduzir a problemas no desenvolvimento do atleta.
Contudo podemos concluir que correta ingestão de carboidratos é de extrema importância para a performance, pois os treinamentos das modalidades esportivas exigem sessões diárias de longa duração. A ingestão de carboidratos é necessária antes, durante e depois do esforço físico (Hernandes Junior, 2000).
A média do consumo de proteínas entre os atletas foi de 33,1% enquanto o recomendado é de (10-15%), ultrapassando a recomendação da SBME. No estudo de Pereira (2009) realizado com 82 jogadores, entre 12 e 20 anos de idade, o resultado da média de proteínas igualmente ultrapassou essa recomendação. Segundo Lancha (2011), as proteínas são muito importante na estrutura tecidual, tendo tendo em vista que a adequação deste macronutriente é de extrema importância para a recuperação da atividade desempenhada o mais rápido possível. às proteínas, para aumento de massa muscular indica-se ingestão de 1,6 a 1,7g/kg de peso/dia e para exercícios de resistência um consumo de 1,2 a 1,6g/kg de peso/dia.
Da mesma forma, Rufino (2013), investigou o consumo de macronutrientes de 18 jogadores de futebol masculino e encontrou a ingestão acima do recomendado para PTN, o recomendado era de até 15% e o resultado apresentado foi de 16,7%. Em contrapartida Médici, Caparros e Nacif (2012), em estudo realizado com 13 atletas de futsal masculino, encontraram valores adequados no consumo de PTN.
Na situação geral, se agregar a ingestão de PTN elevada e a baixa ingestão de CHO, o excesso das PTN poderá ser utilizado como fonte de energia, auxiliando durante os exercícios de alta intensidade, diminuindo assim o déficit energético, porém esta não seria a pratica mais correta a ser seguida, o apropriado é a ingestão adequada de CHO para que estes sejam a principal fonte de energia, pois um aumento da oxidação de aminoácidos poderá levar há um comprometimento normal do processo de síntese proteica podendo assim levar os jogadores a perda da força muscular e alteração em seu desempenho em campo durante suas atividades (Lemon, 1994).
As proteínas têm uma função plástica no nosso organismo – formam estruturas. Elas têm uma participação mínima para produção de energia quando a dieta está adequada no fornecimento calórico. Por serem responsáveis pela formação e reparação dos tecidos, proporcionam adaptações em resposta ao treinamento físico, além de estarem envolvidas na formação de hormônios e de enzimas que participam de diversas funções, dentre as quais, o metabolismo segundo Cabral ( 2006).Entretanto embora recomenda-se para as pessoas que começam um programa de treinamento de pesos intensivos necessitem de mais proteínas conforme a diretriz da SBME (2003) quantidades excessivas não aumentam os ganhos em força muscular. Quando ocorre o consumo exagerado de proteína ela é “queimada” como fonte de energia ou é armazenada como glicogênio ou gordura. Portanto, a melhor dieta para o esportista contém a quantidade adequada, mas não excessiva, de proteína para construir e reparar o tecido muscular (Clark, 1998).
Hernandes Júnior (2000) ressalta em seu estudo que a ingestão de proteínas acima dos valores recomendados ou acima de suas necessidades momentâneas é um problema por que
não permite que exista carboidrato suficiente para restaurar o glicogênio muscular em depleção durante dias de treinamento. O excesso de proteínas na alimentação pode fazer com que seus aminoácidos sejam utilizados sob a forma de energia ou se convertam em tecido adiposo; elevem o risco de desidratação em decorrência de maior excreção de amônia e uréia pelos rins, de aumentar as perdas de cálcio, prejudicando a contração muscular o excesso de proteínas, além de ser convertido em gordura, pode acarretar diversos efeitos colaterais, como, aumento da excreção de cálcio, prejudicando a contração muscular, aumento do risco de osteoporose, sobrecargas excessivas no fígado e rins para a metabolização e excreção do nitrogênio excedente, além o risco de elevação do nível de colesterol sanguíneo, considerando que os alimentos ricos em proteínas possuírem uma quantidade considerável dessa substância.(PANZA, et al 2007). As proteínas participam da recuperação dos tecidos musculares após o exercício, auxiliando na manutenção da glicemia, principalmente através da gliconeogênese hepática (Tiveron, Gatti. Silva, 2012; SBME, 2009; Lima-Silva e colaboradores, 2006).
Os lipídios, que representam a principal reserva energética do organismo, participando de diversos processos celulares de especial importância para atletas, como o fornecimento de energia para os músculos em exercício, a síntese de hormônios esteróides e a modulação da resposta inflamatória. Os lipídios são importantes para o nosso organismo porque fazem parte da estrutura celular, estão envolvidos com algumas funções hormonais, são essenciais para a absorção e utilização de vitaminas lipossolúveis, estão envolvidos na proteção térmica e contra choques mecânicos. Para que se consiga o melhor aproveitamento deste macronutriente, é importante saber qual tipo e quanto de cada um a ser consumido na alimentação têm sua utilização pelo músculo determinada de acordo com a intensidade e duração do esforço. Em relação ao consumo de gorduras, os resultados mostraram tendência significativa onde a ingestão média de lipídeos foi de (34,73%) ficando acima das recomendações da SBME (até 30%). No estudo de Losado e Ceni (2016) realizado com 17 atletas também mostra consumo adequado de lipídios entre os jogadores. Vale destacar algumas desvantagens de uma alimentação rica em gordura para atletas em modalidades de resistência, leva a uma diminuição da capacidade de resistência; impede o completo armazenamento de glicogênio na musculatura e perturba a função do fígado, o que impede a recuperação, no fígado, das reservas de carboidrato utilizadas (Weineck, 2000)
Segundo Gomes e colaboradores (2015) os lipídios desempenham importante função na formação de membranas celulares e na resposta imune do organismo, sendo assim a adequação de quantidade e qualidade deste macronutriente é de extrema importância para a saúde e o desempenho dos atletas. A oxidação de lipídeos é fundamental para manutenção energética e térmica do organismo humano, tanto durante o repouso como durante o exercício; seu uso como fonte de energia é capaz de poupar o glicogênio muscular. O consumo de quantidade elevada de gordura na dieta é um problema muito comum nas dietas de atletas, tornando mais difícil o consumo das quantidades preconizadas de carboidrato. Entretanto, uma redução muito severa no consumo de lipídios não é aconselhável, pois tal nutriente não só participa do metabolismo da produção de energia, como também do transporte de vitaminas lipossolúveis, e são componentes das membranas celulares (ACSM et al., 2000).
Flores e Mattos (2011), em seu estudo que foi realizado com 18 jogadores de futebol masculino encontraram valores adequados para o consumo de LIP, o consumo médio foi de 25,2%. De outro modo, Fonseca (2012), no estudo com 16 jogadores de futebol, apresentaram resultados abaixo do recomendado para LIP, a quantidade média ingerida foi de 20,98 ± 5,25%.
Corroborando assim, com os achados nesta pesquisa.
Viebig (2006), ressalta que o excesso desse macronutriente pode danificar o desempenho, levando a uma diminuição da habilidade de resistência, evitando o completo armazenamento de glicogênio na musculatura e perturbando a função do fígado, além de causar problemas de saúde relacionados ao sobrepeso e obesidade. Assim sendo como o excesso pode prejudicar, em quantidades inferiores às recomendadas, os LIP podem fazer falta não só no metabolismo da produção de energia, mas também no transporte de vitaminas lipossolúveis
De acordo com a recomendação das SBME (2003) e de Williams (1995) verificamos que a média do consumo diário dos atletas ficou abaixo das duas fontes de recomendação, a desadequação no consumo alimentar dentro às recomendações, observada com os praticantes de futsal de Joinville reforça as denominações apontadas por Wolinsky e Hickson Junior (1996) onde indicam que de uma maneira geral, todos os estudos e pesquisas encontraram irregularidades em relação ao consumo de calorias e macronutrientes (carboidrato, proteína e lipídio), assim como o desequilíbrio nutricional de atletas amadores e profissionais.
CONCLUSÃO
Os resultados do estudo indicaram que os atletas se encontram dentro das medidas antropométricas adequadas mas em contrapartida o consumo alimentar apresentou-se insuficiente para a demanda energética exigida para o atleta. É importante ressaltar o papel da alimentação no desempenho de uma modalidade esportiva, principalmente no futebol, onde o consumo inadequado de carboidrato é fator limitante no desempenho durante os jogos.
Esses dados apontam à necessidade de adequar a alimentação dos mesmos por nutricionistas, visto que a inadequação da ingestão alimentar de macro e micronutrientes pode acarretar prejuízos no desenvolvimento e no desempenho.
REFERÊNCIAS
1-Hernandes Júnior, B. D. Treinamento desportivo. Rio de Janeiro. Sprint. 2000.
2-Anjos, H. A.; Navarro, F.; Santos, J. X.; Andrade, T. A. S. Estado nutricional e corporal de atletas profissionais de futsal do município de Moita Bonita-SE. Revista Brasileira de Nutrição Esportiva. Vol. 8. Num. 45. p. 141- 145. 2014. Disponível em:
3- Ferreira, A. P. et al. Potência anaeróbia e índice de fadiga de atletas de futsal da seleção brasiliense. Rev Bras Futebol 2009 60 Jan/Jun; 02(1): 60-69.
4- Fifa. Fédération Internationale de Football Association. Regras do Futebol 2016
5- Fonseca, P. H. S.; Marins, J. C. B.; Silva, A. T. Validação de equações antropométricas que estimam a densidade corporal em atletas profissionais de futebol. Rev Bras Med Esporte _ V. 13, n. 3 – Mai/Jun, 2007.
Nutricionista: Vanderleia Meirinho dos Santos
Instagram: @vandadosantos