Falar sobre vegetarianismo na infância ainda é algo novo. Se você for fazer um levantamento bibliográfico encontrará poucos artigos científicos quando comparado com outros temas.
Mas se tratando de um assunto tão polêmico, é importante que o embasamento e argumentação sejam pautados pelo meio científico, que sejam excluídos preconceitos e informações equivocadas sem cunho científico.
Nas últimas décadas houve um aumento da prática do vegetarianismo na infância que foi acompanhado por uma mudança de concepção das dietas vegetarianas também no campo científico. Antes as publicações científicas focavam mais nas dificuldades, mas atualmente sabe-se que a dieta vegetariana pode sim ser saudável.
Isso é afirmado por diversas instituições importantes como a Sociedade Brasileira de Pediatria (2012), Associação Portuguesa de Nutrição (2013), Academy of Nutrition and dietetics (2014) e a também a Sociedade de Pediatria Canadense.
Elas afirmam que “a Dieta vegetariana bem planejada, durante a infância, é capaz de garantir o crescimento e desenvolvimento adequados”.
Até mesmo o Conselho Regional de Nutricional 3, em um parecer afirmou que “A adequação nutricional da dieta vegetariana estrita (vegana) é mais difícil de atingir e exige planejamento e orientação alimentar cuidadosos, incluindo suplementação se necessário”
Ainda diz que “A alimentação vegetariana equilibrada, bem orientada, pode ser tão ou mais saudável que a dieta onívora”.
A Academy of Nutrition and dietetics (2014) diz que a dieta vegetariana pra crianças tem menor quantidade de colesterol, gordura saturada e gordura total, maior teor de fibras e antioxidantes, o aporte proteico é facilmente atingido.
Porém antes é preciso entender os tipos de vegetarianismo. É preciso compreender para acolher esses indivíduos e suas necessidades.
Segundo a Sociedade vegetariana Brasileira o vegetarianismo é o regime alimentar que exclui todos os tipos de carnes, incluindo os peixes.
O vegetarianismo costuma ser classificado da seguinte forma:
(a) Ovolactovegetarianismo: utiliza ovos, leite e laticínios na sua alimentação.
(b) Lactovegetarianismo: utiliza leite e laticínios na sua alimentação.
(c) Ovovegetarianismo: utiliza ovos na sua alimentação.
(d) Vegetarianismo estrito: não utiliza nenhum produto de origem animal na sua alimentação.
Vamos aos principais pontos expostos nos pareceres citados acima.
No planejamento alimentar dessas crianças é preciso considerar:
- O aporte de energia e macronutrientes: as crianças vegetarianas tendem a consumir maior quantidade de vegetais (legumes, hortaliças e etc) que possuem baixo valor calórico, portanto é importante acrescentar alimentos com maior densidade calórica como cereais, leguminosas e boas fontes de gordura;
- Boa oferta de cálcio: a criança lacto-vegetariana costuma consumir leite e derivados, já com a vegana é necessário planejamento maior incluindo alimentos com maior biodisponibilidade de cálcio, como o gergelim;
- Ferro: os estudos científicos apontam que crianças vegetarianas ingerem maior quantidade de ferro, porém em sua forma não heme, menos absorvível. É necessário aderir a práticas alimentares que diminuam o teor de fatores antinutricionais dos alimentos como a “remolho” do feijão, e acrescentar fontes alimentares de vitamina C nas refeições principais para que o ferro seja melhor absorvido. Essas crianças devem ser suplementadas com ferro, assim como as crianças onívoras, já que essa é uma recomendação tanto da Organização Mundial da saúde quanto do Ministério da saúde no Brasil para todas as crianças;
- Ômega -3: vegetarianos não possuem dificuldade na ingestão de ômega-3 já que fontes alimentares vegetais estão disponíveis (linhaça chia e etc). Porém é preciso estar atendo ao consumo de ômega-6 que pode interferir na conversão de EPA e DHA.
- Vitamina B12: os veganos devem estar atentos a essa necessidade, já que as fontes alimentares de B12 são encontradas apenas em carnes, leite e ovos. A suplementação deve ser feito ou a inclusão de alimentos fortificados;
- Proteína e aminoácidos: não foi encontrado déficit proteico em crianças vegetarianas, pois o reino vegetal oferece proteína de forma abundante. A substituição da carne deve ser feita por alimentos do grupo dos feijões (feijão, grão de bico, lentilha, ervilha e etc.).
Em aproximadamente 7 Colheres de sopa de feijão, temos 190 calorias, nessa porção conseguimos substituir todos os nutrientes que seriam encontrados na carne, no mesmo valor calórico. Em resumo, 1 porção de carnes (65 a 100g) pode ser substituída por 1 concha do grupo de feijões. Nessa porção vamos encontrar aminoácidos essenciais, ferro, zinco, aminoácidos, necessários para uma boa nutrição.
- Amamentação: as crianças vegetarianas podem e devem ser amamentadas de acordo com as recomendações. Inclusive para receber via leite materno nutrientes essenciais ao desenvolvimento como ferro, cálcio e vitamina b12. Na impossibilidade é preciso oferecer fórmulas lácteas ou fórmulas veganas a base de soja ou arroz já disponíveis no mercado. Não é recomendado que a fórmula para lactentes seja substituída por leites vegetais caseiros (soja, amêndoas, arroz e etc.) antes dos 12 meses idade.
Portanto a alimentação vegetariana na infância é possível e pode ser bastante saudável, inclusive na prevenção do sobrepeso e obesidade na infância. Contato é preciso que o profissional na Nutrição esteja atualizado cientificamente para realizar uma orientação adequada e suprir a necessidades da criança.
Por: Aline Camargo Vieira
Nutricionista
Pós-graduação em Alimentação Materno Infantil
Nutrição clinica e atendimento para vegetarianos
Contato: 11-3628-8360
contato@nutrialinevieira
@nutrialinevieira
FONTES:
Sociedade vegetariana brasileira. Disponível em: https://www.svb.org.br/
Sociedade brasileira de pediatria: Disponível em: http://www.sbp.com.br/
Academy of Nutrition and dietetics 2011. Disponível em: http://www.eatright.org
Conselho Regional de Nutrição 3. Disponível em: http://www.crn3.org.br/
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