Apesar do atual cenário epidemiológico do vírus da imunodeficiência humana (HIV), ressalta-se que no mundo ocorreu uma redução de novas infecções em 41% nas crianças desde 2010¹. Embora tenha reduzido o número de infectados nos últimos anos, ainda assim existe a vulnerabilidade social que afeta esta população como um importante problema de insegurança alimentar e nutricional (IAN), visto que a qualidade da alimentação e o estado nutricional ainda são obstáculos recorrentes, principalmente entre os da classe de maior pobreza².
Nesse contexto, estudos realizados com indivíduos vivendo com HIV retratam que o cenário de IAN é cada vez mais prevalente neste público, incluindo crianças e adolescentes. Rasteiro e Oliveira (2014)³ descreve que IAN nesse grupo está associado à piora na adesão ao tratamento, além de prejudicar a manutenção de outras necessidades essenciais, visto que não promove a saúde, não respeita a diversidade cultural e sustentabilidade em diversas dimensões da Segurança Alimentar e Nutricional (SAN). Sendo que a exposição a IAN normalmente dispõe da necessidade permanente ou temporariamente de provisão de alimentos4,5.
Outro ponto importante refere-se o atual cenário alimentar que atinge a população brasileira, principalmente os adolescentes. Segundo a Política Nacional de Alimentação e Nutrição6, o adolescente é o estrato da população com o pior perfil de alimentação, caracterizado por baixo consumo de leguminosas e hortaliças no geral, que não difere também dos adolescentes com HIV. Segundo um estudo realizado por Pereira e colaboradores7, foi relatado que todos os adolescentes estudantes mostraram o hábito de consumir doces e guloseimas, sendo (40,7%) afirmaram consumir três ou mais vezes por dia.
Ademais, foi ratificado em um estudo observacional, que esta faixa etária apresenta um padrão alimentar inadequado, representado pela alta ingestão de açúcar, gordura saturada e sódio, além da ingestão insuficiente de cereais integrais e frutas8. Outros achados também ressaltaram a baixa qualidade da dieta entre indivíduos infectados, demonstrando a existência da relação entre o menor consumo de fibras e a baixa contagem de linfócitos T CD4+, como o aumento de índice massa corporal9,10.
Vale complementar, que além da qualidade da alimentação, indivíduos com HIV apresentam maior predisposição a desenvolver doenças oportunistas e infecções, por essa razão manter o monitoramento do estado nutricional, seja pelo estado clínico da doença, ou pelos possíveis efeitos adversos da TARV é de extrema importância. Devido à doença, são mais propensos a risco de alterações metabólicas como a resistência à insulina, dislipidemia, doença cardiovascular precoce e alteração da composição corporal (lipodistrofia), mesmo com a melhora do prognóstico da infecção pelo HIV11.
Logo, a intervenção nutricional como um aspecto primário de promoção de saúde, propõe assegurar SAN por meio da vigilância e intervenção nutricional específica com o propósito de manter ou recuperar o estado nutricional, função imunológica e a qualidade de vida desses indivíduos, promovendo um impacto positivo no curso da doença12,13.
Amanda Paiva Lino
CRN 19100610
Pós graduanda em Segurança Alimentar e Nutricional – CESAN/UNIRIO
Pós graduanda em Nutrição Esportiva – Almanaque Nutrição
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