A avaliação da fertilidade antes da gestação é tão importante tanto para os homens como para mulheres, já que o material genético que compõe o bebê é proveniente de ambos. Por isso, é recomendável que a preparação do casal se inicie pelo menos três meses antes da gestação. Estes cuidados podem fazer diferença positiva para a saúde do futuro bebê. Além disso, preparar o organismo da futura gestante para a gravidez, aumenta pode impactar numa gestação mais saudável e tranquila.
A avaliação dietética da futura gestante deve contribuir para a identificação de hábitos alimentares que possam estar inadequados, com o intuito de preparar o organismo para a concepção. Além disso, a avaliação patologias como diabetes gestacional, síndrome o ovário policístico, desnutrição, além da identificação de uso de cigarros e álcool podem aumentar o estresse oxidativo a partir da produção de espécies reativas de oxigênio (EROs) e de nitrogênio (ERNs), que podem contribuir para a maior ocorrência de aborto espontâneo, crescimento intrauterino restrito e nascimento pré-termo. Desta forma, o nutricionista deve orientar e incentivar a modificação de hábitos alimentares e de estilo de vida. Caso a mulher esteja sobrepeso ou obesa, a redução de aproximadamente 3 a 5% do peso é indicada. Há também casos em que mesmo com peso dentro dos parâmetros de normalidade, pode não haver melhora significativa da função reprodutiva, quando a alimentação não possui boa qualidade. Além disso, o baixo peso (IMC menor que 18,5kg/m²) também pode estar associado a infertilidade ou desfechos gestacionais indesejados. Por estas razões, seja no baixo peso ou no sobrepeso/obesidade, o nutricionista deve levar em consideração todo o contexto de vida em que está inserida a futura gestante, através da avaliação da qualidade do sono, nível de estresse, perfil hormonal e nível de exercícios físicos, que devem estar bem alinhados com a alimentação, pois todos estes fatores somados, podem contribuir com a fertilidade.
Nutrientes importantes para a fertilidade masculina
Nutriente | Função | Fontes alimentares |
Carnitina | Fornecer aporte energético aos espermatozóides. | Carnes e laticínios |
Arginina | Motilidade dos espermatozóides. | Carnes, peixes, ovos, laticínios, oleaginosas. |
Zinco | Essencial para o funcionamento do sistema reprodutivo masculino e quantidade de espermatozóides. | Frutos do mar, carne, leticínios ovos leguminosas, cereais integrais, oleaginosas. |
Vitamina C | Motilidade e qualidade do material genético dos espermatozóides. | Frutas e hortaliças. |
Vitamina E | Maior antioxidante presente nas membranas dos espermatozóides. | Carnes, laticínios e óleos vegetais oleaginosas, vegetais. |
Glutationa | Proteção aos espermatozóides do estresse oxidativo. Favorece a ação antioxidante do alfa-tocoferol(vitamina E). | Carnes, peixes, frutas, verduras e legumes. |
Selênio | Junto com a Glutationa são essenciaos na formção da espermátide, formação da capsula mitocondrial presente no espermatozóide maduro. | Carnes, peixes, frutos do mar grãos e cereais, oleaginosas. |
Coenzima Q10 | Mobilidade dos espermatozóides e proteção do material genètico presente nas células espermáticas. | Carnes aves, pescados, leguminosas, óleos vegetais e oleaginosas. |
Vitamina B12 | Quantidade e mobilidade dos espermatozóides. | Frutos do mar, carne ovos, laticínios, vegetais e cereiais integrais. |
Fertilidade da mulher
Nutrientes importantes na pré-concepção.
Nutriente | Necessidades diárias | Função |
Proteína | 60g | Nutriente essencial para os componentes estruturais e funcionais das células. |
Ômega 6 | 11-12g | Componente estrutural da membrana celular, envolvido na sinalização celular, precursor de eicosanoides. |
Ômega 3 | 1,1g | Desenvolvimento neurológico, crescimento, precursor e eicosanoides. |
Carboidratos | 130g | Estímulo para crescimento. |
Folato | 400ug | Função neurológica, eritropoiese, formação do tubo neural, desenvolvimento do cérebro. |
Vitamina B12 | 2,4ug | Função neurológica, eritropoiese, formação do tubo neural, desenvolvimento do cérebro. |
Vitamina A | 700ug | Visão, imunidade, desenvolvimento e crescimento de órgãos e membros, produção de glóbulos vermelhos. |
Vitamina D | >600 IU | Componentes maternos e fetais que são afetados ou influenciados pela presença de vitamina D e as vulnerabilidades secundárias à hipovitaminose D: Função imunológica, crescimento dos ossos, balanço de cálcio e fósforo, secreção de insulina, controle da pressão arterial, falha na implantação, diabetes gestacional. Insuficiência placentária, pré-eclâmpsia. |
Vitamina B6 | 1,3mg | Múltiplas funções enzimáticas, metabolismo proteico, função neurológica. |
Iodo | 150ug | Adaptação tireoidiana à gravidez, desenvolvimento do cérebro. |
Ferro | 15-18mg | Síntese de hemoglobina, funcionamento dos órgãos. |
Cálcio | 1.000-1.300mg | Função muscular, desenvolvimento esquelético, transmissão de impulso nervoso, secreção hormonal. |
Selênio | 55ug | Fertilidade, crescimento fetal, prevenção do estresse oxidativo. |
Zinco | 8-9mg | Função imunológica/ resistência a infecção, crescimento,neurodesenvolvimento. |
Colina | 400-425mg | Função da membrana celular, transmissão neural de impulsos, Desenvolvimento cerebral e formação do tubo neural. |
Biotina | 25-30ug | Função imunológica e neurológica. |
Cobre | 890-900ug | Função imunológica, formação de tecido conectivo, metabolismo do ferro, sistema nervoso central. |
Ácido alfa-lipóico | 50 mg | Potente antioxidante, estimulando a captação de glicose pelas células. |
Carnitina | 1 g | Melhora da produção de energia nas mitocôndrias. |
Inositol | 500 mg | Regula o ciclo menstrual, melhora a ovulação. |
Betaína | 300 mg | Melhora processos de metilação. |
Coenzima Q10 | 100 mg | Vital para atividades relativas ao metabolismo energético, por interferir diretamente na produção de ATP. |
Fonte: Hanson et al., 2015; Heyden e Wimalawansa, 2018.
Nutrientes importantes na formação do embrião
Sistema ou Função | Nutrientes |
Cérebro e sistema nervoso | Ferro zinco, iodo, ácido araquidônico, ácido eicosapentaenoico (EPA), ácido docosahexaenoico (DHA), vitaminas A, B6, B12, ácido fólico, cobre, selênio. |
Função e estrutura placentária | Ferro, ácido araquidônico, EPA e DHA, vitaminas E, C, B12, zinco, selênio, cobre, ácido fólico. |
Inflamação e função imune | Vitaminas A, D, zinco, ácido araquidônico, EPA e DHA. |
Estresse oxidativo | Vitaminas C, E, B6, B12, ácido fólico. |
Embriogênese | Vitaminas A, B6, B12, ácido fólico, zinco. |
Fonte: Mahan e Escott-Stump, 2005.
Estratégias nutricionais que podem contribuir com a fertilidade
Segundo pesquisa realizada pela Sociedade Americana de Medicina Reprodutiva, o consumo regular da Dieta Mediterrânea é capaz de elevar as concentrações de nutrientes para a saúde reprodutiva (Moosavian et al., 2015). A dieta deve conter as seguintes características:
- Alimentos naturais ou orgânicos;
- Azeite de oliva como a principal fonte de ômega – 9 ou ácido oleico;
- Proteinas animais carnes brancas e vermelhas: consumo moderado;
- Consumo moderado e regular de uvas e sucos naturais de uva (orgânica);
- Consumo diário de fibras solúveis, pois podem melhorar a regulação do apetite, da glicemia pós prandial, da resposta à insulina em casos que haja resistência à insulina;
- O consumo regular de fibras solúveis pode ser capaz de modular a microbiota intestinal, a partir da produção de ácidos graxos de cadeia curta, que fazem com que as células beta produzam fatores que levem a produção de linfócitos T reguladores, que são linfócitos anti-inflamatórios, modulando, desta forma, a função pancreática e favorecendo os casos de resistência à insulina (Sun, et al., 2015).
Alimentos recomendados | Alimentos a serem evitados |
Peixes ricos em ômega 3: salmão, atum, arenque, sardinha em torno de duas vezes por semana. Frutas frescas e da estação, de preferência inteiras, com bagaço e com casca. Preferir a fruta ao suco. Verduras verdes claras e escuras, sempre com atenção para a higiene e desinfecção destes alimentos. Legumes crus, cozidos e assados. Aveia, linhaça, chia, psyllium, gergelim, centeio, cevada, trigo e massas à base de farinhas integrais. Oleaginosas. Óleos vegetais: oliva, canola, girassol, coco e milho, sempre com moderação. Leguminosas: feijões, graõ-de-bico, ervilhas, lentilhas e soja em grãos. | Carnes vermelhas ( Moderado ou baixo consumo). Embutidos: linguiça, salsicha, hambúrguer, presunto, peito de peru, mortadela, entre outros. Gorduras saturadas: banhas, manteiga e gorduras provenientes de produtos animais. Biscoitos doces ou salgados, massas e cereais preparados com farinha branca e com gordura trans. Biscoitos recheados, e produtos à base de açúcar refinado. |
Fonte: Hanson et al, 2015.
Referências
- MOOSAVIAN, Seyedeh Parisa; ARAB, Arman; PAKNAHAD, Zamzam. The effect of a Mediterranean diet on metabolic parameters in patients with non-alcoholic fatty liver disease: A systematic review of randomized controlled trials. Clinical nutrition ESPEN, v. 35, p. 40-46, 2020.
- HANSON, M. A. et al. The International Federation of Gynecology and Obstetrics FIGO) recommendations on adolescent, preconception, and maternal nutrition:” Think Nutrition First”. International journal of gynaecology and obstetrics: the official organ of the International Federation of Gynaecology and Obstetrics, v. 131, p. S213, 2015.
- HEYDEN, E. L. WIMALAWANSA, S. J. Vitamin D: Effects on human reproduction, pregnancy, and fetal well-being. The Journal of Steroid Biochemistry and Molecular Biology, 180, 41–50, 2018.
- MAHAN, L. K.; ESCOTT-STUMP, S. Alimentos, nutrição e dietoterapia. São Paulo: Roca, v. 11, 2005.
- SUN, Jia et al. Pancreatic β-cells limit autoimmune diabetes via an immunoregulatory antimicrobial peptide expressed under the influence of the gut microbiota. Immunity, v. 43, n. 2, p. 304-317, 2015.
Nutricionista: Adriela Rydlewski Ito
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