Esse cálculo é um passo importante no dia a dia do nutricionista para a definição da estratégia nutricional e elaboração do plano alimentar para o seu paciente. Por isso, saber como calcular o gasto energético de maneira precisa é fundamental.
Através da estimativa do gasto energético conseguimos definir a quantidade necessária de calorias que devem ser consumidas diariamente para que o indivíduo mantenha o seu peso e composição corporal, assim podemos manipular a ingestão entre déficit e superávit calórico com o objetivo de induzir a redução ou aumento de peso e mudanças necessárias na composição corporal de acordo com o objetivo do paciente.
O que é o gasto energético total?
O gasto energético total geralmente abreviado como GET é constituído por 3 componentes principais, são eles gasto energético basal, efeito térmico do alimento e termogênese por atividade.
O gasto energético basal é a quantidade mínima necessária de calorias para manter as atividades corporais como respiração, circulação, regulação da temperatura corporal e homeostase. É a quantidade de energia que uma pessoa gasta diariamente quando está em repouso. Geralmente o gasto energético basal é abreviado como GEB, mas em alguns livros e artigos pode ser chamado como taxa metabólica basal (TMB), gasto energético de repouso (GER) ou taxa metabólica de repouso (TMR). Este é o fator de maior relevância para o gasto energético total de uma pessoa, sendo responsável por 50 a 60% de todo o gasto calórico diário. Diversos fatores influenciam na quantidade de calorias gasta diariamente pelo metabolismo, porém os fatores que mais influenciam são peso, altura, composição corporal, sexo e idade.
O efeito térmico do alimento geralmente abreviado como ETA (Algumas fontes também podem chamar de termogênese induzida pela dieta ou DIT), é o gasto energético atribuído ao consumo, digestão e absorção dos alimentos. Este pode variar com a composição da dieta, sendo que refeições ricas em carboidratos e gorduras podem aumentar o gasto energético em até 5%, enquanto refeições ricas em proteínas podem elevar o gasto energético em até 30% das calorias ingeridas. Os efeitos do ETA no gasto energético total são pequenos, pois o aumento da termogênese tende a diminuir depois de 30 a 90 minutos após a refeição, então para propósitos práticos o ETA é calculado como até 10% adicionais sobre o gasto energético basal.
A termogênese por atividade (TA) é o gasto calórico relacionado a pratica de atividades esportivas ou atividades da vida cotidiana, sendo este o componente mais variável do GET, além de possibilitar maior manipulação para influenciar nos resultados do seu paciente. Geralmente a TA é adicionada ao cálculo do GET como um múltiplo para o gasto energético basal, tendo uma faixa de valor correspondente para cada grau de atividade fisica.
Para estimar o GET, o primeiro passo é calcular o gasto energético basal. Ao longo dos anos, diversas equações foram criadas para essa finalidade, sendo a equação de Harris-Benedict a mais utilizada para estimar o GEB em indivíduos normais, praticantes de atividades esportivas, enfermos ou feridos. Porém, descobriu-se que as fórmulas de Harris-Benedict superestimavam o GEB em indivíduos normais e obesos em 7% a 27%, por isso essa formula deve ser utilizada com cautela em alguns pacientes. A seguir algumas equações utilizadas para estimar o GEB.
Como calcular o gasto calórico basal?
Existem diversas fórmulas para calcular o gasto calórico basal, que é a quantidade de calorias que o corpo precisa para manter suas funções básicas em repouso. Uma das fórmulas mais utilizadas é a equação de Harris-Benedict, que leva em consideração a idade, altura, peso e sexo da pessoa.
Harris-Benedict: P é peso, A é altura em centímetros e I idade em anos. Essa equação é mais indicada para praticantes de atividade fisicas, enfermos ou feridos. Costumo utilizar com pacientes ativos fisicamente que tem como objetivo aumento de peso e massa magra.
Sexo | Fórmula de Harris-Benedict |
Feminino | 655 + (9,6 x P) + (1,9 x A) – (4,7 x I) |
Masculino | 66 + (13,8 x P) + (5,0 x A) – (6,8 x I) |
FAO/OMS: P é peso.
Idade (Anos) | Masculino | Feminino |
10 a 18 | (17,686 x P) + 658,2 | (13,384 x P) + 692,6 |
18 a 30 | (15,057 x P) + 692,2 | (14,818 x P) + 486,6 |
30 a 60 | (11,472 x P) + 873,1 | (8,126 x P) + 845,6 |
+ 60 | (11,711 x P) + 587,7 | (9,082 x P) + 658,5 |
Mifflin-St Jeor: P é peso, A é altura em centímetros e I idade em anos. É a mais precisa para estimar o GEB tanto em individuos eutróficos, como em sobrepeso e obesos. Costumo utilizar em pacientes com objetivo de emagrecimento.
Sexo | Fórmula de Mifflin-St Jeor |
Feminino | (10 x P) + (6,25 x A) – (5,0 x I) – 161 |
Masculino | (10 x P) + (6,25 x A) – (5,0 x I) + 5 |
Cunningham e Tinsley: P é peso e MLG é massa livre de gordura. São as equações mais indicadas para individuos ativos fisicamente e que possuem alto volume muscular e baixo percentual de gordura.
Nome da Equação | Fórmula |
Cunningham (MLG) | (22 x MLG) + 500 |
Tinsley (MLG) | (25,9 x MLG) + 284 |
Tinsley (P) | (24,8 x P) + 10 |

Voltando ao cálculo do gasto energético
Após ter calculado o gasto energético basal, pode ser adicionado o valor respectivo ao efeito térmico dos alimentos. Lembrando que esse pode variar com a composição da dieta ou alimentação do paciente, sendo que dietas hiperproteicas podem ter maior influência, podendo ser adicionado até 10% do GEB. Um ponto importante aqui, é lembrar que as equações para cálculo de GEB são estimativas e algumas podem ser mais precisas do que outras dependendo das características fisicas do indivíduo, o que pode induzir a uma superestimação do gasto energético basal e adicionar uma porcentagem respectiva ao ETA pode ampliar esse erro. Então essa medida deve ser utilizada com cautela, sendo melhor empregada na conduta nutricional para pacientes que tem como objetivo aumento de peso e massa magra.
Após ter calculado o gasto energético basal e ter adicionado a porcentagem relacionada ao efeito térmico dos alimentos, o valor resultante deve ser multiplicado pelos valores respectivos ao grau de atividade fisica (GAF). Uma maneira simplificada de prever adicionais por atividade física é aumentar o GEB em 10% a 20% para individuos sedentários; para atividade fisica moderada, aumente o GEB em 25% a 40%; para individuos ativos e muito ativos fisicamente, aumente o GER em 45% a 60%. Esses graus são faixas utilizadas na prática e no momento podem ser considerados “opiniões de especialistas” mais do que baseados em evidências. A seguir alguns valores para o grau de atividade fisica adaptados da dietary reference intakes for energy que podem ser utilizados como múltiplos do gasto energético basal e assim obter o resultado final do GET.
Grau de atividade fisica | Valores de GAF |
Sedentário | 1 a 1,39 |
Pouco ativo | 1,4 a 1,59 |
Ativo | 1,6 a 1,89 |
Muito Ativo | 1,9 a 2,5 |
Além das equações que calculam o gasto energético basal, também é possivel calcular o GET pelas equações de IOM, desenvolvidas pela National Academy of Sciences, o Institute of Medicine (IOM) e o Food and Nutrition Board, em parceria com o Health Canada. Essa equação calcula a necessidade energética estimada (NEE), que é o gasto energético total, para isso as equações de IOM incluem os múltiplos de grau de atividade física na propria equação de cada faixa etária. As equações de IOM foram desenvolvidas para estimar as necessidades energéticas para as pessoas de acordo com seu grupo etário, possibilitando o cálculo de GET para bebes, crianças, adolescentes, adultos, pessoas com massa corporal adequada, sobrepeso ou de obesos. Todas as equações foram desenvolvidas para manter a massa corporal e promover o crescimento, quando necessário. Elas não foram feitas para promover a perda de peso e emagrecimento. A seguir algumas equações de IOM para cálculo de gasto energético total.
IOM: Nessa equação já é incluso os múltiplos para cada grau de atividade fisica. A é altura em metros, I é idade, P é peso e NAF é o nível de atividade fisica.
Sexo | Idade (Anos) | Equação | Nível de atividade fisica | |||
Sedentário | Leve | Moderada | Intensa | |||
Masculino | 9 a 18 | GET = 88,6 – (61,9 x I) + (NAF x (26,7 x P + 903 x A)) + 25 | 1,0 | 1,13 | 1,26 | 1,42 |
+19 | GET = 662 – (9,53 x I) + (NAF x (15,91 x P + 539,6 x A)) | 1,0 | 1,11 | 1,25 | 1,48 | |
Feminino | 9 a 18 | GET = 135,3 – (30,8 x I) + (NAF x (10,0 x P + 934 x A)) + 25 | 1,0 | 1,16 | 1,31 | 1,56 |
+19 | GET = 354 – (6,91 x I) + (NAF x (9,36 x P + 726 x A)) | 1,0 | 1,12 | 1,27 | 1,45 |
Todas as equações para calcular o gasto energético total (GET) devem ser utilizadas com cautela, pois são apenas uma estimativa, podendo fornecer valores imprecisos, principalmente quando não se tem uma boa estimativa do gasto energético relacionado as atividades fisicas, facilitando uma superestimação do gasto energético total. Uma boa alternativa para evitar erros na prescrição dietética devido a erros nos cálculos é comparar os resultados obtidos nas equações com a quantidade de calorias ingeridas pelo indivíduo, realizando inquéritos alimentares como recordatório de 24h ou registro alimentar, tendo assim uma maior segurança para a conduta dietética e elaboração do plano alimentar.
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Cel: (11) 98984-6528
Instagram: @nutricionistamichaelmartini
Referências
HALUCH, D. Estratégias Nutricionais Para Definição Muscular: Cutting/Pré-Contest. Curitiba: 2019.
MAHAN, L. K.; RAYMOND, J. L. Krause: Alimentos Nutrição e Dietoterapia. 14. ed. Elsevier, 2018.
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