Acredito que todo nutricionista deve entender um pouco mais sobre a teoria do set point pra desempenhar melhor sua função. Você sabendo já ou não o que ela representa, entenda: é objeto de muitas pesquisas dentro da comunidade científica da nutrição, emagrecimento, educação física e medicina esportiva.
Tal teoria afirma que existem limites de peso pré definidos em nosso DNA, e o quanto perdemos ou ganhamos de peso pode estar dentro dessa margem limita, um dos fatores que mostra como é difícil indivíduos obesos ao perderem peso, se manterem nesse peso.
Sabemos que nosso peso depende de uma série de fatores. O primeiro é o balanço energético, aquilo que comemos e aquilo que gastamos. Entendemos também que características herdadas e adquiridas podem mexer nisso, afetando por exemplo o quanto gastamos: hormônios que regulam gasto energético, e quanto consumimos: hormônios que regulam consumo energético, como a leptina. O set point em teoria seria regulado por sinais biológicos que controlam isso para regular nosso peso em uma faixa estável pré determinada geneticamente.
Teoria do set point e a obesidade
Uma observação pessoal é que tal teoria apresenta uma falha direta: tratar a obesidade como unidimensional. Os elementos que podem levar o individuo a ser obeso e se manter assim são vários e fogem de características única e exclusivamente genéticas e atingem ambiente; comportamento; sociabilização e por ai vai. Portanto tratar a obesidade com simplicidade é extremamente delicado.
Uma dica de leitura muito interessante é o trabalho de Betsy Dokken e Tsu-schuen Tsao¹ por mais que tenha sido publicado há 13 anos atrás, a discussão a respeito dos mecanismos envolvidos com a regulação do peso corporal é fantástica.
Nesse trabalho a discussão sobre o quanto a genética de fato contribui na regulação do peso é forte e parece haver um consenso de que genes isolados não são únicos responsáveis pela obesidade e sim um conjunto de fatores envolvidos na interação genes-ambiente. No final de contas parece que se resume ao fato de que realmente: comemos muito.
Interessantemente trabalhos com gêmeos costumam mostrar padrões semelhantes de velocidade na perda e ganho de peso ao se oferecer intervenções dietéticas²,³, o que colabora muito com a influência genética e um possível set point.
Sabemos que dificuldade em se perder e manter o peso perdido é fortemente associada com respostas fisiológicas do processo de emagrecimento, levando por exemplo a maior eficiência mecânica e menor gasto energético, o que pode explicar a tendência em se retornar ao peso de partida, mas ainda resta entender se de fato existem mecanismos genéticos que regulam o set point, e como identificar isso de maneira clara na população, o que tornaria nosso trabalho pelo menos um pouco menos complicado, concordam?
*O texto é de inteira responsabilidade do(a) autor(a) e não reflete a opinião da empresa. O blog é aberto caso outro(a) profissional queira escrever um contraponto.
Referências:
1 – DOKKEN, Betsy B.; TSAO, Tsu-Shuen. The physiology of body weight regulation: are we too efficient for our own good?. Diabetes Spectrum, v. 20, n. 3, p. 166-170, 2007.
2 – BOUCHARD, Claude et al. The response to long-term overfeeding in identical twins. New England Journal of Medicine, v. 322, n. 21, p. 1477-1482, 1990.
3 – HAINER, V. et al. A twin study of weight loss and metabolic efficiency. International journal of obesity, v. 25, n. 4, p. 533-537, 2001.
Fabrício Degrandis – Crn 9410p
Formado em nutrição e educação física
Especialista na área de nutrição esportiva
Mestrando em nutrição
Instagram: @nutrifabriciodegrandis