As preocupações com o peso principalmente fizeram diversas pessoas adotarem hábitos que pudessem diminuir a ingestão de energia. Uma das estratégias que mais é cercada de mitos e paradigmas é a inclusão de adoçantes artificiais na rotina alimentar ao invés da utilização do açúcar, por exemplo, como forma de adoçar um simples café.
Isso despertou o interesse de diversos pesquisadores que tentaram elucidar o quão saudável seria isso. O resultado é um debate incessante entre pesquisas que apontam benefícios como risco reduzido de diabetes tipo 2 e sobrepeso e pesquisas que, por outro lado, apontam prejuízos como aumento do risco de diabetes, câncer e sobrepeso.
O que diz a ciência sobre os adoçantes artificiais?
Curiosamente, pelos debates científicos serem conflitantes, a variedade de adoçantes artificiais aprovadas para consumo varia muito entre países. Aliás, a revisão que trago é fonte de informação para a OMS orientar crianças e adultos quanto a utilização dos adoçantes e seus efeitos na saúde. Aparentemente, a pesquisa realizada em 2019, da Ingrid Toews e seus colaboradores da Universidade de Freiburg na Alemanha, foi até o momento a mais completa sobre o tema. A revisão sistemática contou com 17 ensaios clínicos randomizados, 6 ensaios clínicos controlados, 5 estudos de coorte, 15 estudos de caso-controle, 5 estudos transversais. Além disso, 7 estudos em humanos estão em andamento, e traz algumas considerações importantíssimas.
Sobre diabetes: os estudos analisados mostraram que não há diferenças entre grupos que consumiam adoçantes com relação a glicemia de jejum, insulina e resistência a Insulina.
Sobre obesidade: Os adoçantes artificiais não demonstraram favorecer aumento de peso, IMC ou gordura corporal nos estudos analisados pela revisão.
Comportamento alimentar, apetite e preferência por doces: Os adoçantes artificiais pareceram também não ser um fator prejudicial em nenhum destes quesitos, nos trabalhos avaliados.
Câncer: o risco de câncer de bexiga se mostrou o mesmo quando avaliado por meta analises de estudos de caso-controle em indivíduos expostos e não-expostos a adoçantes. As razões de chances para outros tipos de câncer (exceto de ovário) também não sugerem riscos. Vale ressaltar que a certeza das evidências nesse caso foi muito baixa.
Outros pontos abordados
O estudo também traz alguns outros pontos como saúde dental, obesidade, diabetes e pressão arterial em crianças mas levando a um consenso bem parecido com o dos adultos. Portanto vamos a uma análise ’’conclusiva’’ (entre aspas pois é um tema extremamente polêmico que necessita ainda muitas pesquisas desse nível pra chegarmos a um consenso).
Há limitações, como em toda pesquisa e a mesma não exclui de forma alguma a possibilidade do consumo de adoçantes trazer riscos a saúde. Ao mesmo tempo ajuda de certa forma a termos cautela em determinadas decisões. Como, por exemplo: indivíduo obeso que de maneira nenhuma quer abandonar o consumo de bebidas adoçadas e as mesmas trazem uma ingestão energética altíssima pra esse indivíduo. Será que não nos beneficiaríamos da utilização dos adoçantes como uma primeira abordagem nesse paciente ao invés da total exclusão? Assim, fica o questionamento e a referência de pesquisa.
Por fim, não esqueçam, a nutrição e a ciência são movidas pelos porquês, e o debate tende só a fazer a área crescer!
Nutricionista: Fabricio Tabelião Degrandis
CRN: 9410p
Instagram: @nutrifabriciodegrandis
Site: http://www.fabriciodegrandis.com.br
*O texto é de inteira responsabilidade do(a) autor(a) e não reflete a opinião da empresa. O blog é aberto caso outro(a) profissional queira escrever um contraponto.
Referências utilizadas: https://doi.org/10.1136/bmj.k4718