Ao longo dos anos diversas tentativas de diminuir a prevalência de obesidade no mundo tomaram uma proporção gigante. Assim, diversos modelos de intervenção dietética foram propostos. Alguns mais bem aceitos pela ciência e por profissionais como a dieta do mediterrâneo, dieta Low Carb, Low Fat, etc. A popularização delas associada a um contexto mercadológico (hoje a indústria do emagrecimento movimenta Bilhões de dólares ao ano) fez com que alguns indivíduos de maneira equivocada ou até mesmo mal intencionada se apoderassem de intervenções e as conceituassem como bem entendiam.
Isso foi bem marcante para alguns, pois a própria dieta Low Carb é uma intervenção com inúmeros benefícios. Entre eles, por exemplo, a melhora no quadro de Diabetes tipo 2 (Davies et al., 2018) e perda de peso (Hashimoto et al., 2016). O problema: os trabalhos sérios que apontam benefícios sobre a dieta low carb não levantam a hipótese de exclusão total de carboidratos e orientações que infelizmente, comumente vemos como: exclusão de frutas; exclusão de raízes, tubérculos, arroz e feijão.
O que é, afinal, uma dieta low carb?
A ideia de uma dieta baixa em carboidratos passa primeiramente sobre o que seria uma dieta ‘’normal’’ então em carboidratos? Sabemos que as recomendações usuais falam em 45 a 65 % da composição da dieta em carboidratos. Logo, na teoria, o que vier abaixo disso torna-se low carb. Aliás, num consenso maior o que for abaixo de 40% da dieta vinda de carboidratos pode ser conceituada como uma dieta low carb (Aragon; 2017).
De uma maneira até um pouco mais agressiva, um consumo de cerca de 26% de carboidratos na composição da dieta também é uma excelente opção. Inclusive foi alvo de inúmeros posicionamentos de defensores de uma dieta com maior exclusão de carboidratos ao alegar que a Associação Americana de Diabetes recomenda uma dieta low carb para diabetes. Porém a recomendação da ADA se baseia em torno de 26% (Davies et al., 2018), o que nós como nutricionistas sabemos que num planejamento assim conseguimos facilmente incluir frutas, raízes, tubérculos, leguminosas.
O que sabemos com relação a seus efeitos em comparativo com outras dietas é que sim pode ser uma vantagem no manejo da glicemia, porém efeitos como diminuição do peso a longo prazo não parece ser uma vantagem (Hu et al., 2012; Hahimoto et al., 2016). Além disso, aparentemente até mesmo a especulação de que seria vantajosa uma dieta extremamente low carb para o apetite e saciedade não parece proceder (Hall et al., 2020).
Em suma: uma estratégia muito boa. Não representa, no entanto, mais efetividade na perda de peso sobre outras. Pode ser um bom coadjuvante no tratamento da hiperglicemia, mas isso não representa exclusão total de carboidratos, muito pelo contrário.
Referências:
DAVIES, Melanie J. et al. Management of hyperglycaemia in type 2 diabetes, 2018. A consensus report by the American Diabetes Association (ADA) and the European Association for the Study of Diabetes (EASD). Diabetologia, v. 61, n. 12, p. 2461-2498, 2018.
HASHIMOTO, Y. et al. Impact of low‐carbohydrate diet on body composition: meta‐analysis of randomized controlled studies. Obesity Reviews, v. 17, n. 6, p. 499-509, 2016.
HALL, Kevin D. et al. A plant-based, low-fat diet decreases ad libitum energy intake compared to an animal-based, ketogenic diet: An inpatient randomized controlled trial. 2020.
HU, Tian et al. Effects of low-carbohydrate diets versus low-fat diets on metabolic risk factors: a meta-analysis of randomized controlled clinical trials. American journal of epidemiology, v. 176, n. suppl_7, p. S44-S54, 2012.
Nutricionista: Fabrício Degrandis
Crn 9410p
Formado em nutrição e educação física
Especialista na área de nutrição esportiva
Especialista na área De saúde no envelhecimento
Mestrando em nutrição
Instagram: @nutrifabriciodegrandis
*O texto é de inteira responsabilidade do(a) autor(a) e não reflete a opinião da empresa. O blog é aberto caso outro(a) profissional queira escrever um contraponto.
https://go.hotmart.com/V40815462H?ap=d6d7