A inflamação sistêmica de baixo grau tem sido associada ao aparecimento e desenvolvimento de diversas doenças crônicas.
No artigo sobre carnes ou vegetais na inflamação aqui no blog, falamos sobre processos inflamatórios e o quanto alguns pesquisadores buscam entender os alimentos nesse contexto, principalmente com a melhor maneira de avaliar isto: marcadores inflamatórios como, por exemplo as citocinas, pró inflamatórias. Sabemos também que tais marcadores como PCR e IL 6 têm associações positivas com doenças cardiovasculares, diabetes tipo 2, síndrome metabólica e câncer.
Nesse sentido, entusiastas que vão contra principalmente o consumo de produtos lácteos alegam que consumir leite e seus derivados pode desencadear processos inflamatórios em sujeitos saudáveis. Isso muito preocupa nutricionistas, pois sabemos que os produtos lácteos podem ser bons colaboradores na dieta auxiliando principalmente no processo de emagrecimento. Afinal, proporcionam saciedade e aumentam a ingesta proteica da dieta, e ainda fornecem nutrientes como o cálcio.
Pra debater sobre isso, aliás, somente algo concreto pode nos ajudar e não o achismo. Então, precisamos mais uma vez recorrer à boa e velha ciência.
E o que a ciência nos diz sobre produtos lácteos e inflamação?
Um importante trabalho coordenado pela pesquisadora Sandra Abre,¹ no ano passado, na Universidade do Porto, buscou avaliar a relação entre a ingestão de produtos lácteos e inflamação em adolescentes. Foi realizado um estudo transversal durante o ano letivo destes 412 adolescentes portugueses. Por fim, houve análise de biomarcadores de relação inflamatória como a Interleucina-6, PCR, bem como a adiponectina e leptina.
A ingestão foi avaliada através de questionário de frequência alimentar. Curiosamente, ao contrário do que algumas pessoas pregam, a ingestão de produtos lácteos mostrou uma relação inversa com Interleucina-6 por exemplo, demonstrando uma ação anti-inflamatória principalmente em adolescentes sem excesso de peso.
Esses dados parecem colaborar com outro importante estudo² sobre o tema, realizado por pesquisadores noruegueses. Nele, por meio de uma revisão sistemática, analisaram 16 artigos com indivíduos obesos ou saudáveis, diabéticos tipo 2, e com síndrome metabólica. Os desfechos analisados foram concentrações de PCR, interleucinas, citocinas e outras moléculas de relação inflamatória.
Os dados do estudo demonstraram também que, além de não haver uma resposta inflamatória pelo consumo de produtos lácteos, os mesmo apresentavam em alguns casos um efeito anti-
inflamatório significativo.
Tais estudos parecem ir ao encontro de outros importantes com relação a produtos lácteos e inflamação. Isso mostra, em alguns casos, inclusive uma relação oposta ao que é pregado. Ou seja, uma ação anti-inflamatória como no trabalho³ dos brasileiros do Departamento de Nutrição da USP. Eles verificaram que o consumo de iogurte pode ter um efeito protetor com
relação à inflamação ao analisar também vários biomarcadores.
A revisão sistemática coordenada por Bordoni e um grupo de pesquisadores europeus, ao
analisar 52 ensaios clínicos que investigaram marcadores inflamatórios em relação ao consumo de laticínios, mostrou que os mesmos apresentam atividade anti-inflamatória em humanos, exceto alérgicos ao leite bovino.
Logicamente isso nos trás uma observação: estamos debatendo aqui se a inflamação pelo consumo de produtos lácteos em indivíduos saudáveis é uma realidade. Ou seja, excluímos
do debate intolerantes à lactose e alérgicos à proteína do leite de vaca. Do que a literatura nos dispõe aparentemente, esse é um tema de bem mais fácil conclusão que o debate das carnes. Uma vez que os bons estudos estão sendo unanimes e mostrando em alguns casos inclusive uma ação anti-inflamatória ao consumirmos produtos lácteos, isso falando exclusivamente de inflamação e seus marcadores.
Conclusão sobre a relação entre produtos lácteos e inflamação
Sabemos, assim, que é estudado a possibilidade dos lácteos como promoção de saúde em diversos aspectos como obesidade, diabetes tipo 2 e doenças cardiovasculares. Então sim, se seu paciente tem o hábito de consumir leite e você vê uma boa inserção dele na sua dieta, excluí-lo com a alegação de inflamação não faz sentido.
Nome Nutricionista: Fabricio Tabelião Degrandis
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